LEONARDO MARTINS

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A CICLOVIA COMO VIA DE TRANSPORTE

PUBLICADA NO SITE SOBRETUDO NEWS EM 14 DE DEZEMBRO DE 2011


Ao pararmos para uma observação mais detalhada sobre os ditos 150 Km de ciclovias que temos disponíveis no Rio de Janeiro podemos perceber inúmeras peculiaridades que nos fazem perceber a deficiência quanto a vocação que a palavra ciclovia sugere.

“Ciclovia - (ciclo+via) Pista de uso exclusivo para bicicleta que pode ser construída acompanhando o traçado de ruas e avenidas, como as ciclovias à beira-mar, ou dentro de parques públicos.”
Dicionário Online de Português

Ou ainda: “Ciclovia - "(...) toda pista pavimentada destinada ao transito de bicicletas, fisicamente segregada de pista destinada ao trânsito de veículo automotor por mureta, meio fio ou obstáculo similar e de área destinada ao trânsito de pedestres por dispositivo semelhante ou por um desnível, configurando clara distinção a afetação especial do logradouro por veículos automotores, bicicletas e pedestres."..”
Código de Trânsito Brasileiro – Julho 2008

O local destinado às bicicletas que deveria ser usado somente por ciclistas é dividido com pedestres, corredores, skatistas, vendedores ambulantes, pessoas passeando com cães na coleira, pais e babás com carrinhos de bebês e até mesmo cadeirantes.
É fácil perceber que no Rio de Janeiro às ciclovias ainda engatinham se comparadas a outras cidades mundiais como Amsterdã, Paris. Claramente voltadas para o lazer, as ciclovias cariocas não desempenham uma função fundamental: servir para o transporte efetivo do cidadão.
Com todos os obstáculos que encontramos nas ciclovias, fica praticamente impossível usá-la para se locomover substituindo outras formas de transporte passivo , como o automóvel e a motocicleta, pois ela impossibilita o ciclista de desenvolver uma velocidade média sem riscos, não apresenta continuidade e é incapaz de garantir a segurança de seus usuários.
Para uma cidade que enfrenta cada vez mais problemas de transporte devido as suas vias saturadas de automóveis e transporte público de baixa qualidade, mudar o foco das nossas ciclovias e fazer um planejamento para dar a elas mais funcionalidade e fiscalização seria um ponto fundamental, ainda mais uma cidade como o Rio de Janeiro que além de clima favorável ainda conta com inúmeras belezas naturais que são fatores naturais incentivadores para motivar as pessoas a andar de bicicleta.
Além das falhas na concepção do trajeto, placas não conformes com o código nacional de trânsito, pistas mal conservadas e obstáculos no caminho, grande parte dos problemas são causados pela má educação de pedestres e ciclistas e também da ausência de fiscalização. Na Lagoa, por exemplo, há a faixa compartilhada, que é usada por pedestres e ciclistas. O básico seria que todos respeitassem o sentido de direção, mas isso não acontece, e isso se torna a causa da maioria dos acidentes no local. Já a ciclovia da orla da zona sul acaba se tornando perigosa porque o movimento de crianças, cachorros e ambulantes é muito grande, alguns ciclistas não respeitam o sinal de trânsito e corredores mudam de direção sem olhar para trás.
A realidade poderia ser bem melhor se houvesse mais campanhas de coinscientização dos habitantes com placas informativas e panfletos. A bicicleta é positiva não somente para o usuário, mas também para a cidade. Menos carros na rua, consequentemente menos congestionamentos e poluição no ar. Outra maneira de incentivar o uso das bicicletas é a criação de bicicletários fechados e com vigilância. Muita gente não se sente a vontade de ir para o trabalho de bicicleta por não ter onde para-las sem ter a certeza de que a bicicleta estará lá quanto voltar.
Cabe acrescentar aí também a fiscalização. Os agentes responsáveis por essa fiscalização muitas vezes também infringem as lei do código brasileiro de trânsito. Circulando pelas ciclovias podemos ver apenas guardas preocupados com a segurança e não com o respeito às leis vigentes. Segundo a gerente de ciclovias da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Anete Markus, “não há equipe específica de fiscalização porque acreditamos na campanha de educação e mudança de hábitos por parte da população. A Guarda Municipal até pode fiscalizar, mas não é a intenção, pelo menos neste momento.”
Educar quem vai ser responsável pela fiscalização também é fundamental, ainda mais com a previsão de construção de mais de 45 Km de ciclovias até 2016. É o que prevê o projeto da Transcarioca para a Olimpíada. Haverá a construção de ciclovias que devem cortar dez bairros, ficando responsáveis por aumentar a captação das estações dos BRTs.
Podemos concluir que no panorama atual de necessidade de desenvolvimento de transportes alternativos sustentáveis estamos indo na contramão do que seria o melhor a se fazer. Contamos com uma das maiores malhas cicloviárias do país, mas a mesma é muito segmentada, cheia de obstáculos e que seus usuários não tem ciência de seus direitos e deveres, fazendo com que os mesmos não tenham o conhecimento do grande instrumento que tem a seu favor.
Um melhor planejamento técnico de percurso, cobrindo áreas essências e de forma inteligente faria com que a ciclovia aumentasse seu potencial de transformar a bicicleta em uma forma real de opção de transporte em uma cidade que tem vocação natural para a o esporte e saúde. Mudar a postura municipal de fazer intervenções pontuais e pensar na cidade como um todo, pensando na mobilidade na cidade, integrando-se ao estado. Com intervenções visando uma melhoria gradual e não realizar intervenções pontuais e desconectadas.
A cidade tem que ser pensada de forma sistêmica, isenta de interesses políticos diretos. Tem que ser planejada para que a mudança de governo não interrompa o seu crescimento e consequente melhoria. Políticas claras e corpo técnico capacitado são essenciais para não haver mudanças meramente partidárias. Mobilização dos cidadãos em busca de seus interesses também é fundamental para inibir tais posturas.
A ciclovia no Rio de Janeiro tem de ser pensada como solução a médio prazo, com a educação da população, inserção de elementos fiscalizadores, ampliação e melhorias da rede, bicicletários seguros, incentivos às empresas para construção de vestiários e muitos outros planos interligados e não somente aumentar a quilometragem da malha, sem objetivos previamente planejados.



Referências Bibliográficas:

Código Brasileiro de Trânsito - http://www.denatran.gov.br/publicacoes/download/ctb.pdf

Dicionário Online de Português - http://www.dicio.com.br/

Transporte Ativo - http://www.ta.org.br/



©lmartins fotografia and leonardo martins