LEONARDO MARTINS

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GRAFITE: A ALEGRIA URBANA

PUBLICADA NO SITE OBVIOUS EM 14 DE AGOSTO DE 2015


Este é o primeiro de dos artigos sobre Arte Urbana, em especial Grafite. Intervenções que alegram e renovam nossa selva de pedra, transformando o que esta a sua volta e trazendo novos ares para espaços muitas vezes desvalorizados e degradados. O conteúdo é baseado em curiosidade e muito interesse pessoal pelo assunto e de um bate papo informal e muito rico com Marcelo Ment¹, artista da primeira geração do grafite carioca que transborda sua arte pelas ruas, becos e muros do Rio de Janeiro.
A ideia de escrever sobre grafite veio há uns dois meses, paralelamente à ideia do primeiro texto. Tratei com muito cuidado a iniciativa de escrever sobre este tema pelo envolvimento emocional que tenho com essa arte. Não sou artista, não das tintas, mas admirador da arte, a qual muitas vezes enquadro no visor de minha companheira de trabalho Nikon. Curiosamente demorei tanto que calhou de publicar agora, na semana seguinte a um evento relacionado a arte urbana, o Art Rua².
O grafite é um tema atual desde sempre, desde sua aparição contestadora na atitude desafiadora de marcar seu nome no espaço urbano até a aparição das primeiras composições coloridas. Surge da necessidade de intervir na cidade, deixando sua marca e transformando-a em algo que soe melhor tanto para os seus próprios olhos quanto para o coletivo. Essa subjetividade deu margem a criarmos duas nomenclaturas tão presentes na nossa cabeça: pichação e grafite.
Mas existe diferença? Encaro que não, Penso que existe a clara necessidade de rotularmos tudo o que é novo e diferente do que conhecemos. O que para uns soa como óbvio: grafite é arte, envolve cores e desenhos e pichação é monocromática e não tem valor artístico - pode ser desmontado rapidamente em um bate papo rápido com alguém que está inserido no circuito. Partindo do conceito de arte e considerando toda a subjetividade que este conceito propõe, é fácil perceber que não é simples assim enquadrarmos tudo o que a rua nos proporciona nestes dois simplórios adjetivos. O passo número um é deixar rótulos de lado, chamemos então de arte, como pinturas que vemos nos grandes museus, e vamos nos ater às formas, técnicas e, o principal, a percepção do que é feito. Arte é isso, tem quem ache incrível a Monalisa e quem a ache uma menina sem graça, por exemplo. Há quem valorize e defenda a técnica utilizada na composição e execução da obra e há quem só veja o valor no resultado final.
No grafite é a mesma coisa. Cada artista tem a sua técnica para ocupar os muros e paredes da cidade e para transpor também para telas e escalas menores. Entender o processo e valorizá-lo é essencial pra captar a essência da mensagem que o artista quer passar através de suas obras.
O pano de fundo para isso? A cidade! Sim, a cidade cosmopolita, intensa, frenética, cinza, que não te acolhe, que te faz não querer circular em suas ruas. Lugares que passamos apressados e nem registramos, de uma hora pra outra se mostram coloridos, reluzentes ou com frases de efeito que muitas vezes nos fazem olhar duas, três vezes pro mesmo lugar a fim de apreciar, ver, questionar, admirar... Enfim, nos roubam olhar, nos roubam a atenção – coisa tão difícil na correria do dia a dia. Esse é o espírito. Em uma cidade caótica que segrega e que oprime, poder dar de cara com a arte na rua, de bandeja, seja parado no transito, correndo atrasado ou atravessando as ruas é um presente urbano, uma garantia de um sorriso de canto de boca. Os mais céticos irão dizer: mas tem muita obra sem valor pelas ruas, que deixam a cidade mais feia. Mas o que é feio e bonito se não o mix de experiências visuais que temos e pré-conceitos impostos por uma sociedade ao longo dos séculos? E porque não imaginar também como uma grande escola? Os artistas usam a rua como suas telas e nas ruas evoluem, refinam seus traços, adaptam as suas técnicas, bebem em influências de outros artistas e traduzem essas experiências em novas obras. Temos nas ruas todo esse processo, essa evolução artística. Negar isso é um erro.
O Grafite evoluiu rapidamente. As formas, as técnicas, as cores, tudo se renova e torna nossas cidades cada vez mais vivas. As “telas cinzas” aos poucos vão ganhando cor, beleza e sentido. E paralelamente a isso os espaços se renovam. O Grafite vem funcionando também como um elemento reestruturador, que emprega valor e muda a percepção e uso dos locais onde são executados. Grandes obras atraem mais olhares e turistas que valorizam esse tipo de intervenção.
Temos grandes artistas brasileiros muito valorizados no exterior e ainda pouco conhecidos no nosso país. Valorizar esses artistas que nos oferecem beleza e encantamento aos olhos é entender que eles estão trazendo alegria para nossa cidade. Quando nos encantamos com uma obra nas ruas percebemos a cidade de uma forma mais amigável, menos fria. Nós cidadãos que nos permitimos encantar e acreditar que podemos ter uma cidade mais alegre, mais convidativa e rica devemos cobrar posturas das prefeituras e órgãos municipais e estaduais que valorizem e incentivem a renovação de espaços públicos. Ir contra a politica da cidade cinza, onde se pinta de cinza o que é subjetivamente considerado feio. Vivemos isso desde o gentileza! Pintaram de cinza os painéis do Gentileza! Por que? Cinza é mais bonito? Um pilar de concreto cinza que rompe com a paisagem e sombreia o caminho não pode receber uma intervenção que pelo menos amenize o impacto de sua instalação na cidade?
A ideia é trazer mais artistas pra rua, é tornar a rua cada vez mais convidativa. Os pioneiros dessas intervenções nos mostram que é possível deixar a cidade mais bonita e interessante e que a renovação de espaços antes degradados e desinteressantes é uma forma de ocupar a cidade. Fazer o caminho inverso também é possível. Recentemente em São Paulo um fotógrafo expôs suas fotos nos pilares do minhocão, trazendo a galeria pra rua. Trazendo arte pra quem não tem tempo de procurar por ela. A cidade é tão complexa e tão grande que intervenções de diversos tipos são possíveis e feitas a cada dia. Seja pelo cara que cola um adesivo numa placa de trânsito provocando o olhar e mudando apercepção da mesma quanto por um coletivo que pinta um painel gigante que vai ser visto por quilômetros de engarrafamento. A escala muda, mas o objetivo permanece: Arte pela Arte.



1. Marcelo Ment - https://marceloment.com

2. Art Rua - https://www.instagram.com/artrua





©lmartins fotografia and leonardo martins