LEONARDO MARTINS

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E SE NOSSAS CICLOVIAS FOSSEM PADRÃO FIFA

PUBLICADA NO SITE OBVIOUS EM 25 DE JULHO DE 2015


Vivemos o boom das ciclovias e do transporte sustentável no Brasil. Como tudo que se quer implementar, além do entusiasmo existe um clima de tensão entre os atores envolvidos, nesse caso - pedestres, ciclistas, motoristas e curiosos. A verdade que hoje, usar a bicicleta como meio de transporte efetivo envolve audácia, sorte e muita, mas muita força de vontade.
Sofremos muito com o desconhecimento do código de trânsito brasileiro – que regulamenta a livre circulação dos automóveis e veículos ciclomotores pelas nossas ruas, avenidas e estradas. O mais inacreditável é, que com frequência, os que mais os desconhecem são os profissionais do trânsito, como motoristas de ônibus e taxistas. Contra o desconhecimento e a ignorância somente a informação e a reciclagem. Os profissionais teriam de passar por reciclagens constantes, para de certa forma entenderem que a bicicleta é sim um aliado e não um inimigo para a melhora da saúde das nossas vias da cidade.
Com ciclovias sendo implementadas a toque de caixa, sofremos com a falta de um padrão de implantação que seja eficaz e que realmente seja em benefício do ciclista e não apenas mais quilômetros para computar na obscura guerra pela maior rede cicloviária do país.
Se pegarmos alguns trechos da malha carioca, podemos ver diferenças claras, tanto na sinalização, quanto nos materiais e interrupções. A questão central é por que não desenvolvemos um modelo a ser implementado em todo o rio de janeiro. Claro que nossa cidade, de colonização portuguesa, teve sua urbanização orgânica, acompanhando a topografia da cidade e o traçado não é regular, como em Belo Horizonte por exemplo. Mas muito do que atrapalha a percepção da ciclovia é que ela não tem uma “cara”. Ela é sempre vista como um jeitinho. A sensação é que nunca vamos olhar para a ciclovia e nos sentirmos seguros com ela. E essa percepção é ruim para todos os envolvidos, ciclistas, pedestres e motoristas.
Essa percepção remonta a sensação do pedestre também, onde claramente a cidade é pensada em função do automóvel e não das pessoas. Calçadas degradadas, estreitas e que são um suplício para qualquer um que tenha que ande a pé – imagina os portadores de deficiência. É tão claro que esse sistema é falido e que aumenta a tensão na cidade, não só na hora do rush, que já não é tão marcada – durando praticamente 14 horas todos os dias úteis, que criar soluções de deslocamento nas cidades é uma necessidade real de 5 em cada 5 metrópoles do mundo. E como fazê-lo é o que vai diferenciar o sucesso do fracasso.
Hoje podemos afirmar que numa linha tênue entre sucesso e fracasso estamos numa corda bamba claramente desequilibrados e nos esforçando para não cairmos no fracasso. Temos que usar tudo o que for possível para que a população perceba, respeite e entenda que o carro não é a única solução de transporte. A bicicleta tem que ser percebida como solução de transporte, como elemento beneficitário para a saúde, e como solução sim para boa parte das cidadãs. Como fazer isso? Educação, informação e incentivo!
Criar incentivos fiscais para quem usa a bike efetivamente como transporte. Criar condições reais de circulação com sinalização eficiente e principalmente: FISCALIZAÇÂO. Dar exemplos, construir dados que desmistifiquem o automóvel, restringir sua circulação em áreas centrais que são bem cobertas por transporte público. Em suma, INVESTIR, INVESTIR e INVESTIR. Não apenas financeiramente, mas em educação e cidadania.
Nas últimas semanas acompanhamos de perto a implementação/ construção da ciclovia que liga cosme-velho e laranjeiras ao largo do machado. A iniciativa é ótima, foi bastante fomentada por grupos de bastante expressão na defesa do direito dos ciclistas como o transporte ativo e o bike anjo. Mas deixando de lado as dificuldades claras em trechos compartilhados com os veículos maiores que apresentam vários pontos críticos, como nos trechos que só temos uma facha em cada sentido. O que assombra são os trechos onde ela está sendo implementada na calçada, com um desenho confuso, com muitas curvas bruscas que acontecem em alguns pontos em 45º e que mudam de calçada para a rua de forma abrupta e confusa. Essa rota é de fundamental importância, por se tratar de bairros que tem um trânsito caótico e que tem uma população que já utiliza – a seu modo – o transporte para se deslocar pela cidade.
Acompanhar essa implementação é a peça chave de sucesso para as rotas. Falo como ciclista e usuário da bicicleta como meio de transporte e não como lazer. Optando muitas vezes por exercer meu direito de circular nas vias de automóveis, visto a precariedade e os obstáculos presentes na ciclovia oficial. Temos a tendência de nos contentar com pouco, nos contentar com o fato de que "alguém pelo menos fez alguma coisa", mas temos que perceber que essa "coisa" tem que durar, tem que funcionar e tem que ser bem feita. Tem que atrair mais e mais usuários e ajudar a equilibrar essa guerra nos transportes nas grandes cidades.



Deixo aqui alguns links interessantes que fomentam o tema e ajudam apensar fora da caixa:

Transporte ativo - http://www.ta.org.br

Bike anjo - http://bikeanjo.org

Studio X – http://www.arch.columbia.edu/studio-x-global/locations/studio-x-rio-de-janeiro

Vá de Bike - http://vadebike.org





©lmartins fotografia and leonardo martins