LEONARDO MARTINS

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PUBLICADA NO SITE SERCIDADE NEWS EM 02 DE FEVEREIRO DE 2013


Desde a prefeitura de Pereira Passos não se vem intervenções tão grandiosas na cidade maravilhosa, se lá atrás o intuito de tal grandes obras era a melhoria das condições sanitárias e o embelezamento da cidade, hoje, com o embalo dos grandes eventos internacionais, temos uma grande oportunidade de corrigir muitos erros e executar muitos projetos antigos para acabar com grandes nós em nossa cidade.
A intervenção de Pereira Passos, começada em 1903, claramente inspirada pela reforma Haussmanniana¹, trouxe ares de cidade europeia para até então modesta capital da República, mas para isso promoveu um grande ônus social: o crescimento das favelas da cidade, devido ao arrasamento dos cortiços que tomavam o centro da cidade. Essa passagem da história poderia servir de grande lição, de um desenvolvimento urbano que permita não a exclusão dos mais pobres e sim a criação de condições melhores de vida para todos.
É inviável não pensar a cidade como negócio, principalmente hoje com a dinâmica do mercado imobiliário e o potencial de especulação que temos na ocupação do solo dos grandes centros urbanos, mas temos que usar isso a favor da cidade como um todo. Hoje o custo do metro quadrado do Rio de Janeiro aparece em 76° lugar no mundo². Mas se pegarmos o Leblon, que tem o custo médio de metro quadrado avaliado em R$ 18.300,003, se ele fosse um município, ele estaria em 12° lugar antes de Helsink na Finlândia ou Ipanema com R$ 17.000,00 o metro quadrado, apareceria em 13° lugar. Leblon e Ipanema além de terem uma localização privilegiada na geografia da cidade, contam com as melhores redes de infraestrutura e tem políticas urbanas melhores e mais organizadas que o restante da mesma. Comparativamente, o bairro de Anchieta apresenta um custo por metro quadrado de R$ 1.100,00, e apareceria em 113º lugar, atrás de Cairo no Egito. Há aí um grande erro de planejamento, não que temos que ter cidades com bairros que apresentem valores muito próximos de metragem quadrada, isso seria impossível. Tem muitos fatores que atuam nessa balança sem nem mesmo considerar a ação do homem – topografia, clima, proximidade do mar, enfim, condicionantes que agem diretamente no valor da terra, mas essa disparidade tão grande é que não pode acontecer. Você cria zonas de exclusão e marginalizadas onde não chegam benfeitorias e seus ocupantes não se sentem parte da cidade.
É impensável em pleno século XXI não termos uma participação popular efetiva no que diz respeito aos rumos das nossas grandes cidades. Também é impensável favorecermos interesses privados em detrimento do social. Não precisamos ir longe pra exemplificar casos de favorecimento privado, como a da Escola Municipal Friedenreich³, que é a quarta melhor escola do Rio de Janeiro e do antigo museu do índio. Demolir um prédio com comprovado valor histórico e um dos poucos exemplares remanescentes da época pré-maracanã para construir estacionamento?! Sendo a área explicitamente carente de equipamentos culturais?! Temos que criar mecanismos que favoreçam os dois lados da moeda, a cidade também tem que lucrar com o negócio. Vai se conceder a exploração de áreas da cidade? Tem que se criar contrapartida. Vai permitir a construção de grandes centros de negócios? Vai ter que fornecer a infraestrutura. Vai ter aumento de gabarito? Tem que urbanizar a periferia. A cidade tem que ter sua contrapartida nos ganhos da iniciativa privada. Isso é básico. Temos algumas medidas nesse sentido, mais na área de restauração de bens tombados, mas muito tímidas ainda. Todos saem ganhando. Inúmeras formas de tirar construções onerosas da mão do estado.
Fora a falta de planejamento sistêmico e uma continuidade na hora da tomada de decisões. Desde sempre o objetivo do Rio foi sediar os jogos olímpicos, e se conquistamos a sede dos jogos pan-americanos, que é um passo natural para alcançar o objetivo final, teríamos de construir equipamentos que se já não atendessem as exigências do Comitê Olímpico internacional, fossem passíveis de expansão ou servissem como celeiro de atletas. Não tem justificativa o caso do velódromo4, que custou 14,1 milhões de Reais e que será desmontado para a construção de um novo velódromo ao custo de 134 milhões de Reais. Assim como o parque aquático Maria Lenk5 que não pode atender a demanda de natação dos jogos e que custou 85 milhões de Reais e será subutilizado, assim como já é subutilizado desde sua construção. Os dois consumiram quase 100 milhões, um quarto do orçamento inicial para as construções do Pan que inicialmente foi orçado a 400 milhões e que passou da casa dos 4 bilhões.
Essa deficiência em se pensar a cidade como um todo e em longo prazo gera inúmeros "retrabalhos" desde sempre. Seja no quebra-quebra com menos de uma semana depois da inauguração do Rio Cidade em 1996 ou na construção de outro velódromo. Pensar além do prazo de governo é essencial para o desenvolvimento da cidade. Grandes obras e grandes intervenções tem que ser pensadas em longo prazo, e a falta de interesse político para além do período de governo impede a cidade de muitos ganhos. Temos elementos em planos urbanos antigos para a cidade que nunca foram construídos como a linha verde6, prevista no plano Doxiadis de 1965 que ligaria a via Dutra à Gávea, passando a tijuca e através de um túnel a ser construído na Rua Uruguai saindo na Gávea. Iria desafogar o Rebouças e agilizar as conexões zona sul – zona norte. Bem como o fechamento do anel da linha um do metro com esta mesma ligação Uruguai – Gávea. Uma obra desse porte vai bem além dos quatro anos vigentes. Cai no desinteresse político e procuram-se soluções mais rápidas e de curto prazo, como é o caso do BRT. Planejamento tem, com qualidade, o que acontece é que esbarramos na falta de vontade política e muitas vezes no nosso próprio conformismo.



1. Haussmanniana – Termo que se refere à reforma promovida por Georges-Eugène Haussmann em Paris. O Barão Haussmann - o "artista demolidor" foi prefeito do antigo departamento do Sena (que incluía os atuais departamentos de Paris, Hauts-de-Seine, Seine-Saint-Denis e Val-de-Marne), entre 1853 e 1870. Durante aquele período foi responsável pela reforma urbana de Paris, determinada por Napoleão III, e tornou-se muito conhecido na história do urbanismo e das cidades.

2. http://www.globalpropertyguide.com

3. http://www.portal2014.org.br/noticias/11207/AMEACADA+PELO+MARACANA+ESCOLA+FRIEDENREICH+E+A+QUARTA+MELHOR+DO+RIO.html

4. http://esporte.uol.com.br/rio-2016/ultimas-noticias/2012/11/02/rio-vai-desmontar-velodromo-do-pan-2007-e-construir-nova-pista-de-ciclismo-para-rio-2016.htm

5. http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,despesa-de-r-300-mil-por-mes-e-nenhum-uso-e-o-maria-lenk,504984,0.htm

6. http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=944604&page=2



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