LEONARDO MARTINS

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TRANSFORMAÇÃO URBANA NO RIO DE JANEIRO

PUBLICADA NO SITE SOBRETUDO NEWS EM 02 DE DEZEMBRO DE 2011


"(...) O Rio é uma cidade de cidades misturadas
O Rio é uma cidade de cidades camufladas
Com governos misturados, camuflados, paralelos
sorrateiros, ocultando comandos (...)"

Rio 40º Graus - Fernanda Abreu

Vivemos um momento diferenciado em nossa cidade. Durante muito tempo não vimos grandes intervenções urbanas realizadas de forma conjunta no Rio de Janeiro. A última que me recordo foi o grande caos chamado Rio Cidade.
Me lembro bem daquela época, circulava por Botafogo todos os dias de bicicleta. Lembro-me que em 1995 não tinha o mesmo senso crítico de agora e como qualquer adolescente via aquilo como um provável ganho para a cidade, uma modernização, Mas achava que atravessar a Rua Voluntários da Pátria era uma aventura pra Indiana nenhum botar defeito. Temos uma prática de governo recorrente que é de um dia pra noite inviabilizar completamente a circulação no local fruto da intervenção e se estender por todo o período das obras, para quando ela terminar, termos a sensação de uma melhora ímpar. Somos um país em desenvolvimento. Sim, não somos mais um país de terceiro mundo, estamos nos desenvolvendo, mas nos falta muita visão sistêmica. Claro que toda grande obra tem um ônus social durante a sua realização, mas não podemos ter este ônus elevado à máxima potência. O planejamento é essencial para qualquer intervenção, não somente as urbanas, mas principalmente as urbanas! Estamos falando da segunda maior cidade do país, estamos falando do segundo maior fluxo de pessoas do país! E lidamos com isso com total negligência, digna de países de terceiro mundo! A nossa Voluntários da Pátria passou meses causando os maiores pesadelos nos que obrigatoriamente tinham de passar por ela e principalmente nos que nela moravam! E você me pergunta, e no final? Valeu a confusão? Valeu a intervenção? Antes de tudo, tenho que confessar que sou um entusiasta das intervenções urbanas, desde que justificáveis e planejadas. Na época foram substituídas as pavimentações das calçadas que em sua grande maioria era de pedras portuguesas e alguns trechos ainda em blocos de pedras vindos de Portugal. Junto a isso, teve toda a implantação do cabeamento da Net – que muitos afirmam que foi o real motivo do Rio cidade - e um recapeamento do asfalto já prejudicado e esburacado devia a inúmeras intervenções emergenciais. Não considerando a opinião sobre a estética que é particular e não cabe na avaliação de eficiência, e focando no ganho de qualidade para o local, não vi nada que justificasse. Semanas depois da conclusão do recapeamento, voltaram a quebrar toda a extensão na rua por não haver uma ação integrada e planejada e a via nova ficou com o asfalto cheio de remendos. O material escolhido para revestir calçadas foi de péssima qualidade, perdendo cor e sendo gasto rapidamente, menos de um ano depois as partes brancas já estavam mais cinzas que as que alertavam para rampas e orelhões. A dimensão da rua não mudou, não havia como mudar, quem conhece a voluntários sabe que em alguns trechos existem casarios antigos que deixam pra calçada pouco mais de um metro livre para o pedestre e tirando alguns pontos críticos de buracos que melhoraram, não consigo acreditar que o valeu o investimento feito. Mas o projeto Rio Cidade tinha como intuito criar uma identidade para os bairros nos quais foi implementado. Muito positiva a iniciativa, mas para uma intervenção como essa é difícil acreditar em não pensar em todos os sistemas integralmente e não somente um desenho urbano. Temos que renovar e ampliar todas as nossas redes de infraestrutura já identificando a possível expansão do bairro, temos que criar condições de intervenções futuras sem a necessidade de uma nova reformulação total. Temos que favorecer novos fluxos, criar alternativas, fomentar mudanças, identificar demandas locais... Enfim, muitas coisas que poderia enumerar aqui... Mas no Rio cidade foi feito somente um desenho urbano. Alguns bonitos, outros nem tanto. Sem falar dos postes... Postezinhos caros aqueles...
Aí você me pergunta por que voltar ao Rio cidade?
Vamos ter muitas intervenções urbanas até 2016. Estamos começando pelas essenciais, pois sem elas em pouco tempo estaremos piores que São Paulo em deslocamento urbano. Temos um sistema de transporte público risível. Você consegue andar de metrô as 17:00? Esse metrô chega até onde você precisa ir? Consegue ir pra Barra de ônibus na hora do Rush? Consegue ter uma viagem de barca com qualidade as 16:00? Então estamos fazendo o mínimo - mínimo - para a cidade não parar durante algum evento de grande porte. Mas ainda vão vir muitas intervenções de "embelezamento" por aí até lá. E o que temos que pensar - e cobrar - é que não sejam novos Rio Cidade, que não sejam ações de maquiagem da cidade, para inglês ver (como diria minha sábia avó), mas que venham agregar valor maior do que estético ao lugar onde serão feitas. O Porto Maravilha está aí. Alguém viu estudos de tráfego que comprovem a eficiência da retirada da Perimetral e a construção dos mergulhões? Odeio a Perimetral, a acho péssima, um câncer em um dos lugares mais bonitos do Rio de Janeiro, mas o que fazer com o fluxo pesado que circula por ela diariamente? O que faremos? Ficaremos reféns do trânsito? O transporte público de qualidade vai chegar ali? VLTs1 vão enfim sair do papel? Mas isso é assunto para um próximo momento...



1. VLT - Veículos leves sobre trilhos ou metrô leve, ou ainda, metrô de superfície, é uma espécie de trem ou comboio urbano e suburbano de passageiros, cujo equipamento e infra-estrutura é tipicamente mais "leve" que a usada normalmente em sistemas de metrô ou de ferrovias de longo curso.



©lmartins fotografia and leonardo martins