.......Se faz necessária uma breve apresentação desse que fez os registros e vos apresenta o bairro. Não sou um tijucano de berço, não sou nascido na Tijuca, minha história com o bairro começa ainda no fim da infância, onde minha dentista, que era em Copacabana, passou a atender em seu novo consultório na Rua Padre Elias Goraieb - a apenas a um quarteirão do metrô. Assim, eu saía do metrô na praça Saens Pena, quando ainda ferviam os cinemas, café palheta e muitas animadas lojas de rua, e andava um quarteirão até o consultório da minha dentista - Lastênia era seu nome. Quase nessa mesma época conheci o Tijuca Tênis Clube em um sem número de competições de natação e polo aquático na minha adolescência. Fiquei encantado com a escala do clube, era impressionante! Sempre que tinha competição no Tijuca eu já bolava o plano para ficar por lá depois de acabar a prova ou o jogo.
.......Em 1996 consegui estabelecer uma relação mais próxima, quando entrei para a Escola Técnica Federal de Química, no campus Maracanã, circulava com amigos pelas ruas do bairro, íamos ao rodízio de pizza da Parmê, comíamos empadas no Salet, risoles no Pituchinha e fazíamos noitadas no saudoso Terceiro Milênio - carinhosamente apelidado de Terceirão. Marcávamos de almoçar no Shopping Tijuca, logo que abriu com a mística de que iria desabar. Na Praça Afonso Pena ficávamos de bobeira vendo as árvores e o tempo passar quando a aula acabava cedo. Cerveja em muitos botecos da região, desde a Senador Furtado até imediações da UERJ. Com destaque para o Sindicato do Chope.
.......Mas foi só em 2020 que me vi morador da Tijuca, um jovem Tijucano mesmo não sendo mais tão jovem assim. Feliz e animado com essa oportunidade, mas eis que em meio a essa alegria e empolgação, veio a pandemia. Nos mudamos na semana que tudo fechou e parou, nos vimos na nossa casa nova sem poder sair e viver o bairro. Foi o grande desafio que todos nós tivemos que passsar. Assim que as coisas foram melhorando, com máscara no rosto, álcool 70º no bolso e confiança pra botar o pé na rua, decidi que precisava andar pelo bairro pra conhecer de perto suas ruas, comércio, pessoas e peculiaridades.
.......Comecei então em 2021 um projeto de fazer um foto por dia do meu novo bairro, do que atraísse o olhar: arquitetura, pessoas, mobiliário urbano, objetos, tudo o que me chamasse atenção eu registrava. Foi realmente um desafio, primeiro porque estava trabalhando de home-office e não era todo o dia que precisava e podia ir à rua, mas perseverei. Segundo porque muitas vezes me perdia nas andanças, me embrenhava em ruas e caminhos diferentes e muitas vezes esquecia de fazer a foto.



.......Ao final dos 365 dias consegui registrar o dia a dia de uma parte do bairro. A Tijuca é gigante e não tinha a pretensão de documentar ela inteira em apenas um ano. No início, nem via a prática como uma documentação na verdade e sim um exercício de observação e fotografia. Mas quando ia reunindo o material produzido no fim de cada semana, percebi que apesar das minhas generosas caminhadas, acabei me concentrando muito em uma parte da Tijuca, que posteriormente denominei Área 01.
.......Muitos registros nas cercanias da praça Afonso Pena, afinal, sou pai de duas lindas crianças e a praça era e continua sendo um local que vamos com frequência. Também ruas sem saída, que tenho uma grande curiosidade e admiração, ruas principais como Haddock Lobo, Doutor Satamini e Conde de Bonfim por seu fluxo, tanto de carros como de pedestres, indo e vindo, sempre procurando algo.
.......Ao final, 365 fotos do dia a dia Tijucano, muitas situações que nos passam despercebidas no dia a dia, cenas comuns do cotidiano, algumas engraçadas, mas no fim um bom documento do dia a dia Tijucano.
.......De 2022 para cá venho ampliando esses registros e, para além, voltando nesses pontos e fazendo novos registros, que mostram as transformações que o bairro sofre, sejam comércios que fecham e logo são substituídos, sejam prédios que substituem antigas casas ou as vezes, infelizmente até escolas tradicionais. Esse retorno aos mesmos pontos nos permitem ver o bairro vivo, pulsante, que se renova, que se transforma. Com uma velocidade que parecemos não perceber quando não registramos. É impressionante. Algumas quadras em apenas 4 anos já viram o mesmo ponto ter três comércios diferentes. E da mesma forma alguns lugares permanecem inertes, imóveis ao passar do tempo.
.......Esse trabalho é um compilado de todos esses registros, focado na área 01, com as fotos inciais de 2021 e as outras fotos feitas no decorrer desses quatro anos, onde podemos ver a ação do tempo, que transforma, modifica ou apenas prevalece. Outros ângulos dos mesmos pontos iniciais também vem complementar as percepções e oferecem novas perspectivas e camadas desse bairro único que acolhe quem chega e oferece muita informação e encantamento pra quem tem os olhos atentos nos caminhos.
.......Te convido para conhecer uma parte bem charmosa, agitada e cativante deste que é o coração da Zona Norte do Rio de Janeiro.



.......A Tijuca é um dos bairros mais populosos do Rio de Janeiro. De acordo com dados mais recentes, a população estimada é de cerca de 150 mil habitantes. Com uma população tão grande, não é difícil nos depararmos com boas cenas do cotidiano. O Bairro é muito ativo, intenso, vivo. O comércio local é forte, muitas lojas de rua sempre cheias e movimentadas. Ao mesmo tempo muitos bares tradicionais, praças, e equipamentos urbanos importantes para a vida do bairro. A cidade do Rio de Janeiro possui 160 bairros oficiais e a Tijuca está em oitavo lugar quando os listamos por área. Por conta dos seus 7,3 Km² fizemos uma divisão do bairro e três áreas, traçando uma linha imaginária, delimitando os espaços para facilitar a organização e catalogação dos registros.
.......A Área 01, é a parte mais ao norte, que faz fronteira com a Praça da Bandeira, Rio Comprido e Maracanã.
.......A Área 02, é a parte mais central, o miolão da Tijuca, que faz fronteira com o Alto da Boa Vista, Vila Isabel e Andaraí.
.......A Área 03 é a parte sul, maior em área por conta dos maciços, faz fronteira com o Alto da Boa Vista, Andaraí e Grajaú.


.......Esse trabalho contempla uma das três subdivisões imaginárias da Tijuca, denominada Área 01. A Área conta com duas estações de Metrô: Afonso Pena e São Francisco Xavier, que promovem um grande fluxo de pessoas em seu entorno imediato. Também acolhe a Praça Afonso Pena: importante equipamento urbano que reúne muitas famílias e para além dos brinquedos, quadra, parcão e academia da terceira idade, é responsável por ser um pequeno oásis na malha urbana local. Costuma abrigar eventos destinados a todas às idades. A Área conta com uma representativa quantidade de Clubes Sociais, valendo destacar o Club Municipal - muito ativo com festas e eventos e a AABB que abriga muitas modalidades esportivas. Bares famosos e muito populares como o Bar Madri e o Bar Colúmbia - Columbinha por mais chegados, grandes supermercados, feiras livres, escolas tradicionais, creches, cafés, restaurantes e muitas esquinas e calçadas movimentadas que oportunizam encontros e deixam essa parte do bairro muito viva e atrativa aos olhares de um fotógrafo curioso.